sábado, 31 de março de 2012

Da série 'Oitentolatria', parte 11 - Carros da década de 1980

Muitos se queixam dos carros atuais, mal acabados, carissimos, sem personalidade. E ao mesmo tempo falam bem dos carros de décadas passadas. Uma das épocas mais citadas foram - sempre eles - os anos 80. 

Fala-se bem de alguns carros dessa década. Mas como não existe época perfeita, pois para falar a verdade isso nunca existiu no Brasil, veremos o que se fala em confronto com alguns aspectos não muito edificantes das máquinas construídas naqueles tempos. 


1. Volkswagen Santana (fabricado entre 1984 e 2006)


O mais luxuoso carro da Volkswagen, em versão GLS 1989 (fotos: De Gennaro Motors Matérias)

O que dizem os fâs:
 - foi o melhor carro brasileiro, conciliava luxo, conforto e robustez;
- primeiro automóvel brasileiro a receber ABS (isso foi em 1991, já na década de 90);
- era o carro mais sofisticado da época, principalmente na versão mais cara. 

O que eles não dizem: 
- o carro foi o Passat da segunda geração, fracassado na Alemanha;
- sua concepção já antiga o impediu de receber outros avanços em segurança como air-bags, e mesmo assim ele foi fabricado por longos 22 anos;
- era muito caro, a ponto de seu preço, na época em que recebeu um motor mais forte (2.0, em maio de 1988), ser suficiente para comprar uma casa;
- tinha problemas de acabamento, embora o revestimento fosse caprichado (o que era obrigação para um carro tão difícil de adquirir).

Considerações
Era realmente um carro robusto, aliás, para aguentar as estradas da época precisava mesmo ser. Confiável e de ótimo desempenho com motor 2.0. Ficou bem envelhecido e precisou de uma reestilização em 1991; mesmo assim, diante dos carros importados e mesmo de alguns nacionais, continuou a ser um automóvel ultrapassado. Por sua resistência e conforto, porém, ficou em produção por mais de 20 anos, sendo um dos carros com maior tempo de produção, superado apenas pelo Opala e por carros pequenos como o Volkswagen Fusca e o Fiat Uno, além do Volkswagen Gol, que passou por duas remodelações radicais em 1994 e 2008. Tinha uma versão perua igualmente desejada na época, a Santana Quantum, versão da perua Passat Variant européia. O Santana foi um sucesso, mas devido ao nosso mercado de baixo poder aquisitivo, foi o único Volkswagen de luxo fabricado aqui.


2. Fiat Uno (fabricado desde 1984)


 O ainda hoje fabricado Fiat Uno em 1984 (acima) e em 2005 (abaixo); ele é vendido com o nome de Mille

O que dizem os fãs: 
- pequeno por fora e grande por dentro;
- resistente, avançado para a época, muito econômico;
- foi um primor por ser lançado na Itália em 1983, para vir a ser fabricado no Brasil no ano seguinte.

O que eles não dizem:
- o Uno tinha problemas de acabamento muito sérios, como constatados nos testes de longa duração das revistas especializadas - e ainda tem;
- o câmbio era terrivelmente duro e quebrava com facilidade;
- a suspensão dura deixava o carro tão desconfortável quanto o concorrente Fusca (40 cm maior porém muito mais apertado);
- as peças eram caras;
- seu formato o fez receber o apelido de "bota ortopédica";
- era avançado para a época, mas aos 28 anos já é uma velharia, pois suas reestilizações são meras maquiagens, e uma delas, em 2004, o tornou ainda mais feio;
- mudou de nome oficialmente para Mille, convivendo com um outro carro chamado de Uno, lançado em 2010, que não vende tão bem; os dois juntos ainda ficam atrás do Gol nas vendas;
- boas soluções de ergonomia traziam comodidade, mas a falta de equipamentos era estarrecedora; somente o Uno 1.5 R, a versão esportiva, podia contar com vidros elétricos e ar-condicionado, mas eram opcionais caros para a época e nem sempre funcionavam direito;
- o motor das versões comuns da época era um 1.3 fraquíssimo cujo barulho era forte e irritante;
- o Uno 1.5 R andava bem, mas seu motor, além de barulhento, tinha problemas de sobreaquecimento; ainda por cima, esta versão era muito cara e não tinha rádio nem mesmo como opcional.

Considerações
O Uno foi realmente um carro bem avançado para a época e tinha a capacidade de oferecer espaço no banco traseiro a gente grande, coisa que nenhum carro pequeno da época, fora a Volkswagen Brasília, oferecia antes dele. Melhorou muito ao longo dos anos e resolveu velhos problemas como o câmbio e a manutenção cara, mas só está até hoje porque os concorrentes têm pior custo-benefício. Deve sair de linha só no ano que vem com a carcomida carroceria Mille, mas já é um dos carros de maior tempo de produção da história automobilística brasileira. O novo Uno, lançado em 2010, é totalmente diferente do original e ainda vai continuar em linha até 2014, mas pode ser considerado o continuador da história deste carro. É o mesmo caso do Gol, que passou por remodelações radicais e continua a ser chamado por esse nome. A família do Uno incluía o sedã Prêmio, a perua Elba (esta tinha a proeza de ter o maior porta-malas da época, apesar de ser do tamanho de um Fusca, e ser citada no grande esquema de corrupção envolvendo um presidente da República, Fernando Collor, em 1991) e os utilitários Fiorino (picape e furgão, este último ainda produzido atualmente).


3. Ford Del Rey (fabricado entre 1981 e 1991)

O Del Rey versão 82 (abaixo; foto do Blog do Coronado) não nega a origem, vinda do Corcel 78 (acima; foto do Clube do Corcel de Fortaleza); usava, inclusive, as mesmas enormes portas, mas também foi vendido com 4 portas menores.

O que dizem os fãs:
- era o carro mais bem acabado do mercado;
- painel completíssimo, revestimento luxuoso, macio ao rodar;
- muito econômico. 

O que eles não dizem:
- o Ford Del Rey era nada mais do que uma versão modificada do velho Corcel, um carro simples reestilizado em setembro de 1977 como Corcel II;
- sua versão perua, a Scala, era a versão mais luxuosa da conhecida Belina, a perua Corcel; em 1986, com a saída de linha do velho Ford, acabou a hipocrisia de batizar a perua Del Rey com nome diferente, dando-lhe o verdadeiro nome (Belina);
- tinha um motor 1.6 ultrapassado e sem potência;
- pouco espaço interno para um carro dito "de luxo";
- suspensão mole (isso explicava a maciez, mas prejudicava a estabilidade);
- quando o Corcel saiu de linha, lançaram uma versão muito "depenada" do Del Rey, que vinha sem nada, nem um simples rádio;
- era para substituir o luxuoso mas ultrapassado Landau, sendo bem menor e sem oferecer a mesma classe; alguns dizem que era para substituir o Maverick (fabricado entre 1973 e 1979), mas o perfil daquele carro, um cupê esportivo, era completamente diferente.

Considerações
Conciliava economia de combustível e tinha realmente acabamento caprichado. Era dotado de um painel de instrumentos, nas versões mais luxuosas, dotado até de manômetro de óleo e voltímetro, coisas que os carros atuais não oferecem. O carro, como um filhote de um projeto da década de 1970, envelheceu rapidamente e foi substituido em 1991, pelo Ford Versailles, uma versão do Volkswagen Santana durante a vigência da Autolatina, a forçada união entre a Volks e a Ford. Vendeu bastante para a época: 350 000 unidades, segundo o blog do Coronado.


4. Chevrolet Monza (fabricado entre 1982 e 1996)


O Opel Ascona na primeira versão e o Ascona C, conhecido aqui como Monza

O que dizem os fâs:
- carro bonito, confortável, moderno, de excelente acabamento;
- bom desempenho, principalmente com motor 2.0;
- dava status e era o sonho de consumo durante a década de 80.

O que eles não dizem: 
- o Monza, nas versões básicas (SL) e intermediárias (SL/E), era um carro mal equipado onde quase tudo era opcional e precisava ser comprado à parte; ar-condicionado e direção hidráulica eram acessórios muito caros na época e opcionais até mesmo na versão de luxo, a Classic;
- era o velho Opel Ascona, lançado em 1970 e reestilizado até chegar à versão "Ascona C", de 1981, mas com relativamente poucas mudanças em relação ao original;
- confortável porém tinha suspensão meio "mole" e não tinha muito espaço interno por ser bem menor do que o veterano Opala;
- em certas ocasiões, a versão 2.0 tinha problemas, como mostrava um teste de Quatro Rodas (edição de dezembro de 1987), onde o carro teve o motor retificado antes de terminar o teste dos 50 000 km; depois da injeção eletrônica (1991), esse problema acabou;
- o acabamento interno era bom, mas favorecia a geração de eletricidade estática; se o motorista ou um passageiro sair do carro e encostar na lataria, corria o risco de levar um choque - e esse problema era ainda pior na versão Classic; 
- tinha outros problemas sérios no motor, como o comando de válvulas, que se desgastava logo, principalmente quando não passava por manutenções periódicas; na época, ir à concessionária fazer reparos era algo raríssimo (relatado no site Monzeiros.com). 

Considerações
Agradou em cheio os consumidores, tanto é que foi o carro mais vendido em 1984, 1985 e 1986, até ser superado pelo Volkswagen Gol. Na época de seu lançamento era realmente um carro bonito e relativaemente moderno, diante de verdadeiras relíquias como o Volkswagen Fusca e o Chevrolet Opala, e carros horrendos como o Fiat 147. Realmente caprichava no acabamento interno, apesar do material dos bancos favorecer mesmo a geração de eletricidade estática, e com seus vários opcionais ficava muito agradável. Teve de se modernizar em 1991, com uma reestilização e a injeção eletrônica, porém a chegada de seu sucessor, o Vectra, em 1993, mostrou que a época do Monza já havia passado. Mesmo com a fama de não ser muito resistente, os vários Monza que ainda rodam provam o contrário.


5. Ford Escort (fabricado entre 1983 e 2003)


O Escort Conversível (acima) era um dos carros mais desejados e caros; abaixo, o XR3 na época de seu lançamento. 

O que dizem os fâs: 
- moderno, econômico e pequeno;
- era o único carro a ter uma versão conversível;
- seu esportivo, o XR3, era o mais bonito que existia na época.

O que eles não dizem: 
- o Escort usava o mesmo motor do Corcel, o CHT, embora montado transversalmente e não longitudinalmente, como era mais comum nos carros da época, e por isso era um carro de desempenho fraco;
- havia realmente o Escort conversível era caríssimo, aliás, mais caro do que o Santana e o Opala Diplomata, carros bem mais luxuosos e confortáveis; estranhamente, foi um relativo sucesso;
- o XR3 era bonito de fato para a época, mas usava uma versão do motor CHT que, embora mais potente (86 cv), o deixava mais lento do que os humildes Volkswagen Gol 1.6;
- a suspensão dos Escort comuns era mole demais, quase como no Ford Corcel; já a do XR3 era muito dura;
- o carro tratava melhor a bagagem, por ter porta-malas de porte bem razoável, do que os passageiros; no conversível, viajar no banco de trás era mais difícil do que num Fusca;
- tinha manutenção cara demais para um veículo pequeno, conforme constataram as revistas especializadas.

Considerações
O Ford Escort é um carro que justificava a permanência no mercado e seu grande sucesso no Brasil pelos vários aperfeiçoamentos recebidos, como reestilizações, amortecedores eletrônicos na versão XR3 e motores mais fortes, vindos principalmente da Volkswagen durante a vigência da Autolatina, até chegar ao Zetec nas últimas versões. Foi, em geral, um veículo muito caro pelo que oferecia, mas seu preço foi se ajustando à realidade com o tempo, além de ganhar mais espaço interno e equipamentos de conforto, principalmente com as remodelações de 1993 e 1997. Como era tradição na montadora americana, tinha um ótimo acabamento, superior à concorrência e praticamente no mesmo nível do Ford Del Rey, modelo mais luxuoso porém mais antigo.



 6. Chevrolet Opala (fabricado entre 1968 e 1992)

 O Opala Diplomata ficou com esta aparência a partir de 1987, como modelo 1988.

O que dizem os fâs: 
- um dos melhores carros do Brasil, com motor 6 cilindros de 135 cv e manutenção muito fácil;
- embora antigo, era elegante e imponente;
- a tração do Opala era traseira, privilégio de poucos carros mesmo na época; por isso, era bem melhor para rodar em estradas ruins; 
- confortável e espaçoso, não perdia em requinte para o Volkswagen Santana, que era menor, e muito menos para o Ford Del Rey, uma simples variante do Corcel.

O que eles não dizem:
- lançado em 1968, o Opala já era muito ultrapassado em 1980, e seus motores, mesmo o fraco 2.5 de 4 cilindros, bebiam muito combustível;
- sua suspensão macia limitava a condução esportiva, sobretudo na versão perua, a Caravan;
- como todo projeto da década de 1960, não tinha maiores preocupações com a ergonomia;
- na década de 80, recebeu poucos avanços, e suas reestilizações nunca disfarçaram sua idade;
- o motor, além de ultrapassado e gastador, entregava pouca potência para a cilindrada, daí muitos Opalas terem recebido turbocompressor; tinha potencial para render mais, conforme provou o sucessor, o Omega 6 cilindros, equipado com o velhíssimo motor, com injeção eletrônica e cabeçote de alumínio para render 168 cv;
- o requinte valia para o Opala Diplomata, tanto que ele era chamado simplesmente pela versão, sem mencionar o carro, mas a versão intermediária, conhecida como Comodoro, precisava de muitos opcionais para o deixarem realmente confortável;
- como no caso do Monza Classic, os bancos do Diplomata tinham revestimento que favorecia a ocorrência da eletricidade estática; 
- a perua Caravan nunca recebeu as quatro portas, devido à resistência do consumidor brasileiro na época, que preferia os carros com duas.

Considerações
Era de fato um dos carros mais elogiados da história do automóvel no Brasil e a prova de sua robustez é a existência de vários Opalas e Caravans ainda rodando no país, alguns ainda das décadas de 1960 e 1970. Chamava a atenção tanto pelo conforto quanto pelo estilo típico de um carro dos anos 60. A tração traseira permitia realmente ao carrão enfrentar muitos terrenos que os modernos "aventureiros" não aguentariam, mas roubava (não muito) espaço para bagagem. A linha Opala 6 cilindros andava bem, ao contrário dos lentos e igualmente gastadores 4 cilindros. Os Diplomatas, na versão 4 portas, eram carros muito requisitados pelas autoridades, mas o consumo de combustível pesava no orçamento da União, e era pago com o NOSSO DINHEIRO. Seu sucessor foi o Omega, um dos carros mais sofisticados do mercado brasileiro, com nível de requinte próximo dos importados de luxo de sua época (1992 a 1998); o Omega tinha conforto e espaço interno nitidamente superiores ao do velho Opala, embora sua carroceria fosse um pouco menor. Infelizmente, não teve o mesmo sucesso do antigo carro, e continua a ser vendido, embora só importado da Austrália e em pequenas quantidades, a preços bastante proibitivos.


7. Volkswagen Passat (fabricado entre 1974 e 1988)

 O Passat passou por uma reestilização, em 1982, para tentar reverter as vendas em declínio. Não deu certo.

O que dizem os fâs: 
- era um carro que deixou saudade na época, apesar de ser lançado na década de 1970;
- tinha a conhecida mecânica Volkswagen, considerada robusta, andava rápido e era mais confortável do que o Gol, da mesma montadora, além de ser mais barato;
- no começo da década de 80, era um dos carros mais vendidos.

O que eles não dizem: 
- na década de 1980, o Passat, cujo estilo já era muito datado, recebia pouca atenção da Volkswagen: poucos opcionais, acabamento em geral descuidado;
- carroceria barulhenta e muito suscetível à corrosão; 
- a partir de 1984 suas vendas caíram tanto a ponto de ser muito mais vendido no Iraque, então governado pelo tirano Saddam Hussein, do que no Brasil;
- além disso, não oferecia sequer a área envidraçada dos modelos mais novos, fruto de seu projeto antigo.

Considerações
Trata-se do primeiro Passat, concebido em 1973 pelo consagrado Giorgeto Giugiaro, e era um carro de porte médio, bem longe do que viria a tornar-se ao longo do tempo: um automóvel de preço elevado, cheio de requinte e tecnologia. Era um dos melhores carros da década de 70, mas perdeu rapidamente terreno com a chegada do Gol. O lançamento do Chevrolet Monza, bem mais moderno e atraente para a época, contribuiu para a sua decadência. Não adiantou contar com motores fortes, principalmente o AP-800S que equipou o Passat esportivo, chamado de Passat Pointer, relativamente veloz.


8. Chevrolet Chevette (fabricado entre 1973 e 1993)

O velho Chevette tinha esta aparência na linha 1987, que não diferia muito da versão de 1983 (foto do Best Cars)

O que dizem os fâs:
- foi o carro mais barato do Brasil por vários anos, e mesmo assim tinha bom acabamento, conforto, porta-malas espaçoso;
- sua mecânica era simples e tinha baixa manutenção;
- entre os opcionais, havia até câmbio automático;
- oferecia tração traseira.

O que eles não dizem:
- o Chevette tinha sérios problemas de projeto, como espaço interno muito reduzido e ergonomia falha, típica de projetos ultrapassados;
- sua mecânica era simples porque era obsoleta e carecia de tecnologia;
- o motor em geral era bastante fraco (73 cv, aumentados para 82 cv em 1987);
- opcionais como câmbio automático e ar-condicionado deixavam o carrinho com preço maior do que o de um Opala 4 cilindros;
- a tração traseira roubava muito espaço da cabine e do porta-malas, que nem era tão grande assim; não era muito melhor nas estradas ruins do que o Gol, que tinha tração dianteira;
- seu descendente direto, o Kadett, foi lançado em 1989, em um segmento superior; o Chevette era a antiga versão daquele carro, na Europa;
- uma reestilzação feita em 1983 ajudou-o a ganhar em vendas, a ponto de, naquele ano, ser o carro mais vendido, suplantando Gol, Fusca e Monza, mas piorou ainda mais seu projeto ao implantar quebra-ventos, adereços de gosto duvidoso muito populares na época.

Considerações
Contemporâneo do Opala, este Chevrolet também só recebeu melhoramentos na parte mecânica e mudanças na frente e na traseira, permanecendo o mesmo carro até ser tirado de fábrica, aos 20 anos, para dar lugar ao Corsa. Teve fôlego no mercado, a ponto de ser o primeiro carro popular 1.0 da GM brasileira, mas era "presa fácil" para o Uno Mille; o Corsa, muito mais moderno, era superior ao carro da Fiat em vários aspectos mas também não o superava em espaço interno e robustez, os maiores trunfos do concorrente. Durante sua trajetória no mercado, o carro teve como derivados a perua Marajó (versão da antiga perua Kadett européia lançada em 1975 para só estrear no Brasil em fins de 1980) e a picape Chevy, de 1983, todos com tração traseira.



9. Volkswagen Fusca (fabricado entre 1959 e 1986, e entre 1993 e 1996)

 O Fusca, em sua versão Última Série, de 1986 (foto tirada do blog Autozani); em seus 27 anos de produção contínua, fez história também no Brasil

O que dizem os fâs: 
- nunca houve um carro tão charmoso e carismático;
- o Fusca era imbatível para enfrentar as estradas ruins e era bastante ágil, apesar de não conseguir ganhar muita velocidade;
- seu motor refrigerado a ar era muito simples de operar e não precisava de água.

O que eles não dizem:
- conviver com um projeto dos anos 30 significava padecer de vários problemas de ergonomia e espaço interno, além do Fusca ser conhecido, infelizmente, pela falta de segurança ao rodar;
- o motor era fraco, barulhentíssimo e ultrapassado, e era constantemente vítima de sobreaquecimentos por falta de um arrefecimento mais eficiente;
- quando um Fusca colidia, ele sofria poucos danos, mas seus ocupantes frequentemente morriam porque o pára-brisa fica muito próximo do motorista, todos viajavam muito juntos devido ao espaço acanhado e não havia equipamento de segurança algum, a não ser o cinto de segurança (o qual, nos anos 80, era pouco utilizado);
- a popularidade do Fusca era um dos vários entraves ao desenvolvimento de novos projetos automotivos no Brasil, ao lado da precaríssima situação econômica, movida por baixo crescimento, miséria e inflação sem controle.

Considerações
Apesar de seus defeitos, o Fusca é realmente imbatível no ítem "carisma" e merece fazer parte da história do automóvel. Era quase imbatível ao enfrentar as estradas ruins durante o tempo de fabricação. A durabilidade do carro é comprovada pelos inúmeros Fuscas que ainda rodam em pleno século XXI. Foi o carro que as classes sociais menos favorecidas podiam adquirir na década de 1960. Por longos anos, até 1982, foi o carro mais vendido do Brasil, sendo um grande sucesso. Em 1973, sofreu forte concorrência interna da Brasília, um projeto brasileiro derivado do próprio Fusca, com espaço interno muito maior embora com os mesmos problemas de motor barulhento e fraco, e falta de segurança. Na década de 1980, o Fusca foi marginalizado, graças ao lançamento do Gol e de concorrentes modernos. Saiu de linha na época em que a Volks deixava de fazer carros "do povo" e investia no Gol e no Santana, mas voltou graças a uma idéia do presidente Itamar Franco; ficou por pouco tempo, devido às baixas vendas, mas deixou saudades quando se "aposentou" definitivamente.


10. Volkswagen Gol (fabricado desde 1980)


O Gol foi talvez o carro que mais evoluiu na década de 1980: era um simplório modelo com motor 1.6 refrigerado a ar em 1980 (acima) e no início de 1989 ganhou um vigoroso motor 2.0 com injeção eletrônica

O que dizem os fâs: 
- ser campeão de vendas desde 1987 até hoje não é por acaso: o Gol é robusto, econômico, veloz e de preço acessível nas versões mais baratas;
- as versões esportivas da década de 1980 eram feras;
- em 1989, foi o primeiro carro a receber a injeção eletrônica, na versão GTi 2.0.

O que eles não dizem:
- o Gol realmente cativava pelas suas qualidades, mas seus defeitos eram muitos;
- o porta-malas era muito pequeno, e só o Fusca era pior neste sentido;
- o espaço traseiro, mesmo para a época, era acanhado, e servia apenas para crianças pequenas;
- o preço do seu sucesso era o alto índice de roubos (assim como no caso do Fusca);
- faltava vários ítens de conforto nas versões mais populares, que ainda sofriam com o acabamento pobre; 
- as versões mais básicas eram mais desleixadas do que um Fusca;
- as versões esportivas GT e GTS 1.8 gastavam tanto combustível quanto um Santana 2.0; 
- além disso, não era tão barato assim, pois havia menos facilidades na compra e as versões mais simples tinham frequentemente ágio.

Considerações
Lançado em maio de 1980, o Gol é o maior sucesso da Volkswagen brasileira em todos os tempos. Sucessor legítimo do Fusca, realmente conquistava pela agilidade e robustez, mas fazia os ocupantes sofrerem por conta do pouco espaço interno. A partir de 1994, esse problema foi resolvido com o lançamento da segunda geração do Gol, chamada de "bolinha", completamente diferente por fora e por dentro, embora mantendo a mesma robustez; o Gol passou por reestilizações, chamadas de "Geração 3" e "Geração 4", até passar por uma renovação completa em 2008, quando passou a ter motorização transversal e a plataforma do Polo. Tem atualmente como variantes o sedã Voyage, que antes só existia como "quadrado" entre 1981 e 1995, a perua Parati (atualmente em decadência, não passou pela reestilização em 2008) e a picape Saveiro (único derivado do Gol a passar por todas as mudanças).



Com a exceção do Del Rey, derivado do Corcel, não falei em separado das variações de cada carro. Também não falei de modelos como o Fiat 147, o Ford Landau, os Volkswagen Brasília e Variant, e nem os Dodge, todos eles vindos da década de 1970 e sem maior repercussão nos anos 80.

A oitentolatria, pelo menos no mercado de automóveis, parece não ter muita razão de existir devido aos tipos de veículos produzidos aqui. Estávamos assolados pela crise econômica, e os projetos em geral careciam de modernidade, em parte devido ao isolamento provocado pela proibição de importações. O famigerado Fernando Collor, antes de tomar posse como presidente, chamou os carros da década de 80 de "carroças", ao justificar a volta das importações, uma das primeiras medidas que adotou ao lado de atrocidades como o confisco da poupança. Assim, vieram carros muito mais avançados na década de 90, com tecnologias como ABS, air-bag, motores com 4 válvulas por cilindro, a popularização da injeção eletrônica, entre outros.

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